Palestras Virtuais

Vândalos interrompem palestra virtual e atacam professores com xingamentos

A invasão dos vândalos ocorreu na noite dessa quarta-feira, (23/09), durante uma palestra virtual sob o tema “Anticomunismo brasileiro: passado e presente”, promovido pela UESPI de Oeiras.

Publicada em 24 de setembro de 2020 - 16:41

Atualizado em 25 de setembro de 2020 - 08:40

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Vândalos interrompem palestra virtual e atacam professores com xingamentos

Profa. Dra. Marylu Oliveira. Crédito: Reprodução Instagram

Era para ter sido um momento de troca de conhecimentos entre estudantes e professores, mas com a invasão de vândalos, acabou se tornando um ambiente constrangedor e nada democrático.

Na noite dessa quarta-feira, (23/09), estava programado uma palestra virtual sob o tema “Anticomunismo brasileiro: passado e presente”, promovido pela Universidade Estadual do Piauí, da cidade de Oeiras, sul do Piauí, e antes mesmo de começar o debate, a sala virtual foi invadida por vândalos que interromperam qualquer espaço democrático de diálogo.

Uma das professoras convidadas do evento, foi Marylu Oliveira, doutora em História e professora efetiva da Universidade Federal do Piauí, contou que a palestra nem se quer havia começado, quando este grupo de pessoas começaram a gritar, xingar, replicar na sala virtual, por meio do aplicativo Meet, materiais pornográficos e de um político específico.

“Não foi só uma questão de posição diante do tema da palestra. Na verdade, a palestra nem chegou a começar quando eles já estavam nesta confusão toda. Foi uma tentativa de cercear a fala! Enquanto que os alunos e professores saiam da sala virtual, eles ficaram comemorando, porque conseguiram derrubar o ambiente do nosso evento”, pontuou.

Segundo a professora Marylu Oliveira, apesar da tentativa de calar o debate, o evento seguiu em um outro ambiente virtual, com maior controle de público.

“Apesar de tudo, o evento aconteceu. Infelizmente, com perda de público. Porque uma professora da organização do evento teve que fechar a sala virtual e tivemos que fazer em um outro link, mas fizemos. A professora autorizava a entrada apenas de pessoas conhecidas para evitar novas invasões”, ressaltou.

“Não querem promover debate acadêmico, querem nos calar”

A professora doutora Marylu Oliveira, há 16 anos, é estudiosa da temática comunismo e anticomunismo e tem livro publicado, sendo referência para novas pesquisas, além de diversos artigos publicados sobre o assunto. Ela relatou que os professores e pesquisadores de temas políticos estão vivenciando momentos complexos.

“Eu, como pesquisadora, estudiosa, e principalmente da área de política. Digo que estamos enfrentando uma situação bastante difícil e muito complexa. Que é exatamente a tentativa de cessar a fala de sujeitos que produzem academicamente e cientificamente. Estas pessoas que tentam nos calar, não estão interessadas no debate acadêmico. Elas não estão interessadas em informações sobre os recortes e os períodos pesquisados. Elas não querem saber as fontes que nós trabalhamos. Elas não estão interessadas na metodologia. Elas, simplesmente, não toleram que estes temas sejam debatidos e colocados em evidência. Daí, a necessidade destes sujeitos de tentar nos calar”, esclareceu.

A professora explica que este tipo de atitude promovida pelo grupo que interrompeu o ciclo de palestras na UESPI é chamado de Negacionismo.

“Existe uma corrente muito preocupante na contemporaneidade, principalmente, no que se refere ao campo da política que é o Negacionismo. Negacionismo de vários fatos. Não é um movimento unicamente brasileiro, e sim um movimento mundial. Que se nega ao holocausto, a que se nega a Ditadura Militar. Então, tende a se negar a acontecimentos históricos, numa tentativa de refazer o passado ou de moldar o passado aos interesses particulares de algum grupo. Então é muito preocupante, É muito difícil. Inclusive, para quem trabalha com a ciência política, a história política. Nós somos alvos privilegiados destes ataques e é uma forma de calar nós, como pesquisadores”, ressaltou.

Identificação do grupo de vândalos

De acordo com o professor Reginaldo Sousa Chaves, do curso de graduação em História da UESPI de Oeiras, que é um dos colaboradores do Projeto “I Ciclo de Palestras do curso de História da UESPI Oeiras”, o caso será caso será discutido em instância do colegiado do curso.

“A decisão mais imediata e coletiva foi publicar uma nota de repúdio. Mas é algo que vamos discutir oportunamente. Somos uma instância colegiada e na Universidade isso implica em debate e construção de consenso. Ainda vamos nos reunir para ver isso com a calma que merece”, pontuou.

O projeto “I Ciclo de Palestras do curso de História da UESPI Oeiras” é promovido pela professora Debora Strieder Kreuz e Thiago Reisdorfer.

Instituições lançam notas de repúdio e solidariedade

Nota de Repúdio da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), instituição que promoveu o evento.

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Nota de repúdio! ⚠️

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A Associação Nacional de História – Seção Piauí (ANPUH/PI) também se posicionou por meio de nota de repúdio:

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@marylu.oliveira @anpuhbrasil

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Fonte: Márcia Gabriele


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