Violência contra Jornalista

Jornalista sofre racismo em exercício da profissão durante ato pró-Bolsonaro

Antes da violência, Édrian Santos conta ao Portal O Sol que fez entradas ao vivo com a Band News TV e Band News FM, nos dois atos: pró-Bolsonaro e pró-democracia.

Atualizado em 01 de junho de 2020 - 00:18

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O jornalista do Grupo Bandeirantes de São Paulo, Édrian Santos, 25 anos, sofreu racismo na tarde deste domingo, (31/05), ao fazer a cobertura jornalística do ato pró-Bolsonaro, que aconteceu na Avenida Paulista, Centro de São Paulo. O jovem é natural do Maranhão e estudou Jornalismo no Piauí pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e chegou a trabalhar em veículos locais, dentre eles o Portal Oito Meia.

Em seu perfil no Twitter, Édrian Santos, conta que foi impedido pelos manifestantes de fazer o trabalho jornalístico, chegando a sofrer racismo. “Acabei de protagonizar uma confusão num ato pró-Bolsonaro. A trabalho, fui hostilizado por um grupo: “Vai cortar o cabelo, maconheiro, imundo”. Eu me mantinha quieto”, contou.

Édrian Santos explicou ao Portal O Sol que fez entradas ao vivo com a Band News TV e Band News FM, nos dois atos: pró-Bolsonaro e pró-democracia.

“No primeiro ato, que era contra o Governo, houve confronto entre os manifestantes e a polícia. Foram ateados paus, pedras e barricada com lixo. Mas em nenhum momento, agrediram a imprensa. Eu fiquei com medo apenas de ser atingido por algo, pedra ou mesmo bala de borracha. Mas em nenhum momento fui reprimido ou censurado pelos manifestantes ou pela polícia. Eu estava com o crachá da empresa. Estes manifestantes acabaram sendo dispersados pela polícia e o o ato acabou assim”, relatou.

Já no ato pró-Bolsonaro, Édrian Santos explica que expôs, novamente, o crachá, a fim de se identificar como profissional de imprensa.

“Quando cheguei no ato pró-Bolsonaro, os manifestantes já estavam me olhando diferente e me seguindo, apontando. Vários celulares me filmando. Por mim, tudo bem! Eu estava em um local público e não estava fazendo nada de errado, apenas o meu trabalho. Enquanto aguardava entrevistar o tenente-coronel André, era o comandante da operação de contenção dos ânimos dos manifestantes. Foi aí, que os manifestantes começaram a me olhar, apontar e me xingar. Mandaram eu cortar o meu cabelo, me chamaram de vagabundo, maconheiro, imundo, sujo, por conta do meu cabelo e com piadas homofóbicas também”, esclareceu o jornalista.

No vídeo, uma advogada, que não teve o nome divulgado, pontuou que aquilo era um ato de racismo e passou a defender o jornalista Édrian Santos, em meio a multidão e a Polícia Militar. Em contrapartida, os policiais que estavam presentes nada fizeram.

“Colabora ou a gente não vai poder te ajudar”

Segundo o jovem jornalista, Édrian Santos, a Polícia Militar de São Paulo com receio de ataques físicos contra ele, chegou a lhe pedir que colaborasse ou eles não poderiam ajudar depois.

“Para mim, foi tenso a polícia me pedir para sair, pois não podiam garantir a minha segurança. Fui impedido de fazer o meu trabalho apenas por ter o cabelo crespo e armado, por supostamente ser maconheiro e por ser da imprensa. Só um detalhe: eu nunca ingeri bebida alcoólica e muito menos fumei maconha”, pontua o jornalista.

FORA DOS PADRÕES?

Édrian Santos faz um desabafo sobre as violências que os profissionais de imprensa têm sofrido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), principalmente, os jornalistas negros.

“O que eu pergunto é: como é que estas pessoas estavam me apontando, me julgando, dizendo que eu era maconheiro, vagabundo, imundo, ou até mesmo dizendo que eu era contra o Governo, digamos assim, só pelo fato de eu estar lá, fazendo meu trabalho. Eu não entendi! Por que eles não falaram isso para outros jornalistas que também estavam lá? Eles estavam ofendendo a imprensa de forma geral, imprensa lixo e comunista, mas em compensação, diziam coisas diretas para mim”,

Para o jornalista Édrian Santos o que ele vivenciou na tarde deste domingo, (31/05), é considerado um ato de racismo.

“Eles pediam para eu cortar meu cabelo. Em relação ao cabelo, é óbvio que meu cabelo é crespo e cheio, é porque eu sou negro. Não tem outra explicação. Então, se a pessoa, de certa forma, ataca meu cabelo, pede para eu cortar meu cabelo e diz que eu sou imundo por causa do meu cabelo, ela está dizendo que eu sou imundo porque sou negro. Eu senti que houve sim racismo”, desabafou.

Édrian Santos finaliza relatando o cenário de dificuldades que a imprensa tem vivido durante o exercício legal da profissão. “Não é fácil ser jornalista no Brasil! Ainda mais se você foge do padrão branco e loiro. Seria menos ofensivo se eu ouvisse apenas “Imprensa lixo”. Infelizmente, para a Polícia Militar, os jornalistas que devem se retirar”, lamentou.

REFERÊNCIA AO NEONAZISMO

No ato pró-Bolsonaro, os manifestantes chegaram a expor bandeiras neonazistas. Além disto, houve confronto entre os manifestantes pró-Bolsonaro com os pró-democracia. As bandeiras eram nas cores pretas e vermelhas com símbolo tradicional ucraniano também usado por grupos de extrema direita e até neonazistas.

Crédito: Estadão

Fonte: Márcia Gabriele